Ontem à noite assisti à abertura do All Star Game da NBA, uma partida-exibição com os melhores jogadores de basquete dos Estados Unidos, realizada em New Orleans. As equipes foram apresentadas pelo The Roots, grupo de hip hop e black music na ativa há 30 anos. E eles botaram a casa abaixo: saindo do rock’n’roll dos anos 50 até a música contemporânea, contaram – e tocaram – um pouco da história do basquete americano e falaram da carreira dos jogadores, com rimas afiadas (é melhor você saber inglês). Sete minutos inesquecíveis:
Mano Brown (com Lino Krizz) – Gangsta Boogie
“Fiz um boogie pra você entender”. Entender o quê? Que Mano Brown não é só rap. Que tem uma história que vem desde os anos 80, aos bailes black, ao charme e ao funk old school.
É que ele acaba de lançar seu primeiro album solo, “Boogie Naipe”, paralelamente ao seu trabalho com os Racionais MC’s. E é um disco todo baseado nessas sonoridades do funk oitentista, com muitos synths e aqueles timbres tipicos das drum machines da época.
Em “Gangsta Boogie”, quem canta é o convidado Lino Krizz – nas diversas faixas já disponibilizadas na web, Mano Brown cede as melodias a convidados e manda ver mesmo é nas rimas do rap, a sua praia. Entre os convidados estão Wilson Simoninha e seu irmão Max de Castro, Seu Jorge, William Magalhães (um dos fundadores da Banda Black Rio), Hyldon e Carlos Dafé, esses dois últimos cantores da cena black e samba-rock dos anos 70. Soltaê, DJ:
ABC dos Jackson 5 em versão divertida para Target
A varejista Target criou um comercial de volta às aulas leve e divertido ao som de uma versão criativa de “ABC” dos Jackson 5. Com assobios, xiolofones, kazoos, apitinhos e outros instrumentos “de brinquedo” vemos uma multidão de filhotes acordando e se preparando para ir pra escola com os materiais vendidos pela loja. A música, infantil e brincalhona, caberia em uma infinidade de filmes, como por exemplo vinhetas de canais para criança. E funciona muito bem nessa peça. Assista:
Aqui, a versão original dos irmãos Jackson:
Laura Lavieri – Deixa Acontecer
Laura Lavieri, filha do falecido músico Rodrigo Rodrigues (do grupo Música Ligeira) e parceira musical de Marcelo Jeneci, é uma cantora e tanto. Aqui ela aparece em um registro roots fresquíssimo de uma de suas interpretações, uma versão pop funky de “Deixa Acontecer”, do grupo de pagode Revelação. Eu não conhecia essa música, mas achei sua versão tão perfeita que precisei postar aqui (na verdade, mais perfeita que a do próprio Revelação).
Acompanhada por Marcelo Jeneci (teclados), João Erbetta (guitarra) e Diogo Strausz (eletrônicas), destila a essência verdadeira desse hit. Que não é um pagode. É uma canção black anos 80, tanto no groove quanto no tipo de composição. Poderia estar na voz de um Tim Maia, por exemplo. E está muito bem na garganta cristalina de Laura Lavieri. Som na caixa, DJ:
Kendrick Lamar – King Kunta
“King Kunta” é o terceiro single do album “To Pimp A Butterfly”, de Kendrick Lamar. É rap, hip hop, e funky pra caramba. Por “funky” eu quero dizer com as raízes fincadas na black music dos anos 70. Desde a interpretação de Lamar, lembrando James Brown (e também pelo uso do flexatone, instrumento de percussão usado em várias músicas do chefão) até a inserção do refrão “We want the funk”, da faixa “Give Up the Funk (Tear the Roof off the Sucker)” do Parliament.
Sabe do que eu gosto em “King Kunta”? Do jeito como a música vai crescendo, se desdobrando e ganhando corpo. Algo bem diferente da norma no hip hop – e na música feita com muita eletrônica e samples, em geral. Vai DJ:
Mark Ronson e Bruno Mars – Uptown Funk
Que bom que existe gente como Mark Ronson, um cara que entende e ama a black music dos anos 60 aos 80. O cara que produziu Amy Winehouse em “Back To Black”, escoltado pela galera vintage Dap-Kings, banda de apoio de Sharon Jones. Ronson acaba de lançar seu quarto album solo, “Uptown Special”. Que tem como carro chefe o single “Uptown Funk”, balanço oitentista respeitoso à tradição de James Brown e Prince, com suas guitarras sequinhas tricotando precisas. “Uptown Funk” é interpretada por Bruno Mars, que certamente se sente em casa nesse ambiente black. Ouça com atenção o riff dos metais e me diga se não é igual ao de Tim Maia em “Descobridor dos Sete Mares” (só que melhor calibrado do que a Banda Vitória Régia). Pra você, um hit de quebrar a bacia:
Mais comentados