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Concatenation – como o sound design pode sublinhar uma edição frenética em video

Sensacional esse trabalho de edição de imagens com som!
Montado pelas mãos do italiano Donato Sansone e com sound design de Enrico Ascoli, o video experimental (sem propósitos comerciais) costura imagens de um projétil que nasce cuspido pelo próprio Donato e atravessa cenas aparentemente desconexas, criando uma poesia futurista (pela velocidade) e virtuose virtuose (pela edição). A escolha e justaposição das imagens é de tirar o fôlego e ainda tem um bom humor.

O sound design aqui tem um papel importante: tornar mais real a brutalidade da colagem, dando uma textura tátil ao que se assiste. Como é que o som pode chegar a isso? Com volume e equalização. Os sons de explosões, vento, tiros, trombadas e todo tipo de impacto são tratados à base de um volume muito alto e uma equalização que sublinha os graves. Frequências graves são aquelas que sentimos em nosso corpo, nossos ossos e pele. São as que nos fazem dançar, e também nos alertam de que um terremoto está chegando. É assim que o sound design de filmes de ação funciona: reforçando volume e sons graves. É o tipo de sensação sônica que chamamos de “na cara”.

Bote os fones de ouvido:

Dica: Marcelo Machado

Gun Shop, uma experiência em montagem e trilha sonora

Olha só que diferente a forma como o diretor Patrick Smith escolheu a trilha sonora para essa animação: botou um solo jazzístico de bateria (créditos musicais: Steve Rice e Jen Mitlas). Para falar sobre a obsessão dos americanos com armas de fogo.

Ok, pessoalmente tenho uma critica quanto ao efeito final produzido no espectador: se o diretor desejava criar um desconforto e gerar alguma reflexão sobre o uso de armas, não tenho certeza de que o video atinja esse resultado. Por que? Por causa do estranhamento que a trilha “cool” cria, chamando muito a atenção para si. Fica sempre aquela dúvida: e se a trilha fosse p.ex. um death metal? Seria pesado, teria relação com o tema, mas também seria um clichê. Optando pelo solo de bateria, o diretor se diferencia e chama atenção para a própria montagem, mais do que para a temática da cultura das armas.

E então é como referência de edição/montagem e pela originalidade no uso da música que “Gun Shop” atrai – e gosto muito da ideia de uma trilha assim, nada comercial e sem melodia.

Luiza Lian • Tucum + Oyá

Conheci a paulista Luiza Lian através desse seu segundo album, Oyá Tempo, com oito faixas que trabalham experimentalmente as diversas linguagens da música pop atual, em arranjos nunca óbvios. Por exemplo, o batidão de funk de “Oyá” nunca explode: ele se contém e não segue o caminho esperado de cair na pista. O mesmo acontece com a eletrônica “Tucum”, de melodia forte com seus saltos de oitavas pouco comuns no canto popular, e que me remete a um naipe de metais (mas essa é uma referência pessoal). Luiza Lian é um nome que, pra mim, fica no radar das boas novas artistas da música independente nacional.

Segilola – Somewhere Along The Line

Que bonito isso aqui: a voz aveludada da cantora londrina Segilola Jolaosho, acompanhada de um saxofone suave, quase jazzístico, escoltados por um repetitivo loop de cascos de cavalo remetendo às sonoridades do sapateado. Uma delicadeza onírica, sustentando uma melodia muito simples, quase pop – caberia perfeitamente em um formato de balada pop. Uma preciosidade.

Björk – Vulnicura (album)

A duende islandesa Björk lançou em janeiro seu nono disco de estúdio, Vulnicura, e foi soltando os clipes aos poucos (já que o lançamento teve que ser antecipado pelo vazamento na rede, e a criação dos mesmos ainda não estava terminada). Produzido a várias mãos pelo venezuelano Arca, pelo britânico The Haxan Cloak (nome artístico de Bobby Krlic) e pela própria Björk, Vulnicura equilibra eletrônica e arranjos orquestrais na mesma dose. Por exemplo, “Family” se inicia com um violino em um tenso spiccato (técnica em que o arco pula seco e rápido entre cada nota), para no minuto seguinte entrarmos em um clima etéreo de ambient music com camas de synths e cordas:

“Black Lake” se inicia com um quarteto de cordas em andamento lento sustentando a melancolia da canção. Beats eletrônicos quebrados vão entrando aos poucos, minimais, sem nunca tomar a música por completo. Tudo é muito esparso, cheio de espaços e respiros, e somente aos quatro minutos a música cresce de verdade e explode – para voltar ao repouso em seguida, como um movimento de marés:

“Lionsong” é uma das canções com melodia mais “assobiáveis” do album. O que não é pouco, em um trabalho experimental e denso como Vulnicura. Assobiável mas com sete minutos de duração. Definitivamente não estamos no território do pop, mas em suas fronteiras:

Junto com o album, The Haxan Cloak foi convidado pela cantora para remixar alguma das faixas, e escolheu “Mouth Mantra”:

GEM – Grupo Experimental de Música

Instrumentos criadas pelos próprios músicos. Sonoridades inusitadas e até mesmo estranhas. Shows performáticos com instalações sonoras. Esse é o Grupo Experimental de Música, criado em Santo André (São Paulo) por músicos eruditos que sabem e curtem construir seus próprios instrumentos. Participaram da trilha sonora do premiado filme de animação “O Menino E O Mundo” (2013), do diretor Alê Abreu. No video abaixo você pode ver a loucura que fizeram para criar os sons (sound design) do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=y3EOLvxMKa8

Abaixo, fazem uma performance com os sons encontrados em um ferro velho:

E ao vivo, com Naná Vasconcelos: