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New York Times em filme ousado combinando palavras, som e imagens

Faz um bom tempo que admiro a comunicação do The New York Times, seja em seus podcasts (Caliphate e 1619) seja na forma como pensam o futuro do jornalismo a partir de novas tecnologias (Research & Development). O jornal lançou agora um filme que reforça a percepção do quanto o NYT busca um papel de vanguarda na relação com seus leitores e com os tempos atuais. É uma peça formal, no melhor sentido da palavra: abraça a FORMA com vigor, para paradoxalmente conseguir comunicar a importância do CONTEÚDO. No caso do NYT, sabemos o quanto investem em seus talentos para que atinjam um equilíbrio entre boa forma e bom conteúdo.

Extensão da campanha “The Truth Is Essential”, com criação da agência Droga5 e direção da australiana Kim Gehrig, o filme intitulado “The Truth Is Essential: Life Needs Truth” é uma peça ousada e que prende a atenção ao longo de seus 2’20”. Nele, os títulos de cerca de 100 matérias são usados como versos de um poema que costura som e imagens, em um trabalho delicado de edição – que já começa bem, usando os incríveis arquivos fotográficos de seus talentosos profissionais.

E, claro, não poderiam faltar os sons de um teclado digitando os títulos das reportagens, de uma forma percussiva e persuasiva.

A música tem um papel fundamental no filme, não apenas por ditar o ritmo mas também pelo clima de estranhamento que confere ao filme. A trilha sonora do baterista e produtor Makaya McCraven é crua e minimalista, pelada e vazia em seus espaços, composta apenas pelo rufar de seus couros, por um sample de trumpete e por uma atmosfera cinemática de synths e pianos que acompanham o desenrolar das palavras e imagens.

Assistam e depois me digam: em que lugar da publicidade a gente encontra algo assim?

Em poucos.

Gun Shop, uma experiência em montagem e trilha sonora

Olha só que diferente a forma como o diretor Patrick Smith escolheu a trilha sonora para essa animação: botou um solo jazzístico de bateria (créditos musicais: Steve Rice e Jen Mitlas). Para falar sobre a obsessão dos americanos com armas de fogo.

Ok, pessoalmente tenho uma critica quanto ao efeito final produzido no espectador: se o diretor desejava criar um desconforto e gerar alguma reflexão sobre o uso de armas, não tenho certeza de que o video atinja esse resultado. Por que? Por causa do estranhamento que a trilha “cool” cria, chamando muito a atenção para si. Fica sempre aquela dúvida: e se a trilha fosse p.ex. um death metal? Seria pesado, teria relação com o tema, mas também seria um clichê. Optando pelo solo de bateria, o diretor se diferencia e chama atenção para a própria montagem, mais do que para a temática da cultura das armas.

E então é como referência de edição/montagem e pela originalidade no uso da música que “Gun Shop” atrai – e gosto muito da ideia de uma trilha assim, nada comercial e sem melodia.

Wikidrummer: como o ambiente afeta o som de um instrumento

Ótima produção da alemã Touché para o site de bateristas Wikidrummers: uma levada e os ambientes que a cercam. Cada lugar cria uma sonoridade diferente, às vezes seca, outras vezes suja e confusa. No processo de mixagem de uma música, a escolha do reverb para cada instrumento ocorre exatamente dessa maneira. Busca-se criar um espaço no qual os instrumentos sejam percebidos, e é na combinação e equilibrio dos diversos instrumentos e seus ambientes que se constrói a mix.

Oscar 2015: a bateria de “Birdman”

Assisti a “Birdman” um dia antes do diretor Alejandro González Iñárritu sair da cerimônia do Oscar com as estatuetas de melhor filme, melhor diretor, melhor fotografia e melhor roteiro original. Merecido, muchisimo. E quem viu o filme deve ter notado a música que acompanha os longos planos sequência. Aqueles solos de bateria, livres como no jazz, e muitas vezes com uma pegada funky. São de Antonio Sanchez, baterista mexicano que já acompanhou o guitarrista Pat Metheny mas nunca havia composto nada para o cinema. E olha a coincidência, quando adolescente Antonio escutava na rádio o mesmo Alejandro Iñárritu atuando como DJ (“He played the hippest music in Mexico”, daqui).

Música ousada para um longa metragem, traduzindo a tensão e ansiedade do personagem de Michael Keaton sem o uso de melodias. Merecia um Oscar, certo? Só que não: a Academia considerou-a inelegível para concorrer à categoria de melhor música original, alegando que boa parte do filme usa música erudita (Gustav Mahler e Tchaikovsky) e “Crazy” (Gnarls Barkley) em gravações que são anteriores à produção do filme. Poderiam portanto ter indicado “Birdman” à categoria de melhor trilha sonora, já que não concordaram com melhor música original (“trilha sonora” abarca gravações pré existentes e também a música criada especialmente para o filme).

Online, se encontram poucas sequências do filme com as investidas de Antonio nos couros; o que se acha é principalmente a trilha em separado ou os trailers oficiais. Então curta abaixo um pouco da música de “Birdman” (quem quiser assistir a uma performance sua ao vivo executando todo o score do filme, clique aqui):